14/11 - São Paulo (epílogo)



E é isso aí... Mais um epílogo nesta vida em que tudo termina, literal ou afetivamente, às vezes permanecendo insepulto, exceto o próprio existir. Hoje pela manhã, vindo pro mesmo trabalhinho nosso de todo dia por pelo menos mais um ano inteiro, embaixo de uma chuvinha chata, pesei prós e contras: Foram 30 dias de sol desbeiçante, assassino, aviltante, mas pelo menos não fomos incomodados pela chuva em momento algum. Em um único dia deu uma chovidinha que nos deixou uns 15 minutos embaixo de uma marquise, e só. O que choveu foi moscas, pra dentro dos orifícios da face, não sobre a cabeça.


O planeta começa a ficar pequeno demais pra mim. Agora, pra continuar inventando moda e indo parar em ligares que nunca vi antes, só começam a sobrar aqueles para os quais um pouco mais de estrutura é necessária, nos quais não funciona tão bem baixar com uma mochila nas costas e um tanto de avareza na alma. Depois do favelão de oitavo mundo da Rocinha da Nova Guiné, a ideia de ir pra África do Sul na galêga perdeu um pouco do ímpeto. Depois do mormaço asfixiante de Cingapura, a vontade de ir parar naqueles paisecos da Ásia, se já era minúscula, ficou ainda menor. Restam Japão, Coréia do Sul, quem sabe negocio a China comigo mesmo. Depois já era, mais um motivo para o câncer chegar. Apesar do qual, ele continuará não vindo.


Não foi uma viagem marcadamente cultural. Depois de meu annus mirabilis da viagem pros baíses bálticos e Rússia, em que em tantas noites encontrei tantas coisas bacanas e baratas para assistir pelos teatros e óperas dos países, desta vez a ração se limitou a cinemão americano convencional a preço de gente grande. Poderia ter ido, de novo, ver Mozart na Ópera de Sydney, mas, puta que o pariu, haja azar para, nas duas vezes em que estive por lá, com tanta coisa mais interessante para apresentar, eles estarem montando Mozart. Pau no cu do maestro.


Agora é isso... Esperar que a pele desbote como não cansa de desbotar a alma. Trabalhar, trabalhar, trabalhar, envelhecer, envelhecer, envelhecer, engordar, engordar, engordar, seguir com a contínua e crescente decrepitude do espírito, neste estágio avançado mais ainda não terminal desta moléstia crônica chamada vida. Ano que vem tem mais. Ou não, sei lá.


Comentários

  1. Quem sabe vc aprende q a vida é curta demais pra tanta sovinice é resolve viajar de modo mais confortável e para lugares onde isso é possível...

    ResponderExcluir
  2. Dormir no deserto da Tunísia, Egito de cabo a rabo pelo Nilo, Catarata Vitória, a maior do mundo, Aurora Boreal, Círculo Ártico no Canadá, conviver com ursos polares... algumas dessas aventuras não dá pra ir de mochileiro sovina, mas bem que vale a pena.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

11/11 - Doha

10/11 - Perth