18/10 - Port Moresby
Pau no meu cu, pau no meu cu, pau no meu cu. Montes de paus no meu cu. Arreganhadamente, arregaçadamente, pau no meu cu.
Agora eu caguei legal mesmo, com esta minha ideia de que, por ficar na Oceania junto com a Austrália e a Nova Zelândia, com a gente aprendeu nas nada saudosas aulas de Geografia na quinta série, a Nova Guiné seria minimamente civilizada como seus países irmãos. Não é.
Já no guia turístico se falava da relativa falta de segurança de caminhar por boa parte da cidade. Sobre a parte considerada segura, o autor do capítulo não tinha nada mais animador para escrever do que "não deve haver problemas".
Por não termos ideia do que iríamos encontrar, escolhemos um hotel relativamente próximo do aeroporto, e consequentemente afastado de todo o resto que interessa, o que, na verdade, descobri já ser muito pouco.
Port Moresby é um conjunto de pequenos bairros muito pobres esparsos, separados por grande extensões de nada, com apenas estradinhas a conectá-los. No caro hotel, já um certo estranhamento, vendo que todos os hóspedes parecem ser locais, malvestidos, escuros, autóctones, sem jeitão de turistas. Meio como se uma renca de moradores de Guainazes tivesse ido fazer turismo em São Miguel Paulista. O guia turístico era reticente a respeito, e a mocinha do hotel desestimulou veementemente o uso do transporte local, uns onibusinhos bem precários, dizendo peremptoriamente que não seria seguro. Que tomássemos táxis, nada baratos, para ir a todos os lugares. Ainda assim, insisti em arriscar andar até Boroko, uma destas vizinhanças razoavelmente próximas do hotel, para tentar sentir o clima. Nem duzentos metros de estrada depois, um australiano encosta o carro e nos oferece uma carona, reiterando que não era seguro andar por ali. Não nos levou a Boroko, mas a um minúsculo e precário centrinho comercial, onde conseguimos comprar umas tranqueiras de supermercado para tentar sobreviver pelos próximos dois dias, e comer um carneiro indiano não mais do que correto no restaurante ao lado. Impossível passar desapercebido na multidão, dois ou três seguranças na frente da porta de cada loja, multidões de desocupados mascando e cuspindo buai pelas ruas, sem conseguirmos avaliar que grau de perigo efetivamente representam.
Agora eu caguei legal mesmo, com esta minha ideia de que, por ficar na Oceania junto com a Austrália e a Nova Zelândia, com a gente aprendeu nas nada saudosas aulas de Geografia na quinta série, a Nova Guiné seria minimamente civilizada como seus países irmãos. Não é.
Já no guia turístico se falava da relativa falta de segurança de caminhar por boa parte da cidade. Sobre a parte considerada segura, o autor do capítulo não tinha nada mais animador para escrever do que "não deve haver problemas".
Por não termos ideia do que iríamos encontrar, escolhemos um hotel relativamente próximo do aeroporto, e consequentemente afastado de todo o resto que interessa, o que, na verdade, descobri já ser muito pouco.
Port Moresby é um conjunto de pequenos bairros muito pobres esparsos, separados por grande extensões de nada, com apenas estradinhas a conectá-los. No caro hotel, já um certo estranhamento, vendo que todos os hóspedes parecem ser locais, malvestidos, escuros, autóctones, sem jeitão de turistas. Meio como se uma renca de moradores de Guainazes tivesse ido fazer turismo em São Miguel Paulista. O guia turístico era reticente a respeito, e a mocinha do hotel desestimulou veementemente o uso do transporte local, uns onibusinhos bem precários, dizendo peremptoriamente que não seria seguro. Que tomássemos táxis, nada baratos, para ir a todos os lugares. Ainda assim, insisti em arriscar andar até Boroko, uma destas vizinhanças razoavelmente próximas do hotel, para tentar sentir o clima. Nem duzentos metros de estrada depois, um australiano encosta o carro e nos oferece uma carona, reiterando que não era seguro andar por ali. Não nos levou a Boroko, mas a um minúsculo e precário centrinho comercial, onde conseguimos comprar umas tranqueiras de supermercado para tentar sobreviver pelos próximos dois dias, e comer um carneiro indiano não mais do que correto no restaurante ao lado. Impossível passar desapercebido na multidão, dois ou três seguranças na frente da porta de cada loja, multidões de desocupados mascando e cuspindo buai pelas ruas, sem conseguirmos avaliar que grau de perigo efetivamente representam.
Saldo até o momento: visita a Boroko desacontecida, volta ao hotel de taxi, ao custo de 20 kinas (o businho custa 1 ou 2 kinas), ainda é uma da tarde e a perspectiva é passar o resto do dia refugiado dentro do hotel, enrolando para passar o tempo. Sem internet, que, prometida como gratuita e disponível no hotel inteiro, é paga e só tem sinal bom na recepção. Com o dinheiro local acabando, sem ter como trocar mais dele, ilhados aqui no hotel, sendo amanhã sábado e depois domingo, com bancos portanto fechados, se é que existem.
Depois escrevo mais de minhas rasas reflexões sobre a condição humana a partir desta situação, até por falta de coisa melhor para fazer. Pagar uma puta grana pra passar medo, frustração e dificuldades logísticas. Pau no meu cu novamente.
Port Moresby II, with a vengeance!
Ahá! Mas Aderbal cresce na adversidade, resplandece em face às provações e saboreia inebriadamente o doce gostinho do perigo! Aderbal não tem medo da morte, e idolatra qualquer chance de ser conduzido ao doce oblívio da já tão tardia inexistência! Então decidi mandar qualquer sensatez às favas e ir a pé dar uma volta em Boroko, foda-se. No pior cenário, as pernas que minha vacilada impediu de correrem uma maratona este ano poderiam ser usadas para fugir do assaltante, ou agressor, ou sei lá.
Fui, voltei, nada vi de interessante além de muita pobreza, esgoto a céu aberto e muitas e muitas bocas manchadas de vermelho de tanto mascarem buai (aquele mesmo treco que masquei anteontem, com visivelmente bem menos competência). É como aterrissar com sua espaçonave em Arrakis e estranhar aquele mar de gente com os olhos azulados...
Ao longo da caminhada, em passo apertado, sem fazer contato visual, fazendo aquela cara de mau, toda franzida, umas tantas pessoas me cumprimentavam ao passar por mim, sei lá se pra tentar chamar minha atenção e bater minha carteira em seguida, ou se por simpatia induzida pelo buai. Mas bem mais frequente era aquela furtiva olhadinha, aquele meio segundo em que tantas e tantas pessoas traíam seu estranhamento por ver um branco (tá, vagamente amarelinho...) andando entre eles.
Danny Elfman, antes de criar o Oingo Boingo, passou um tempo ganhando a vida tocando na rua em cidades na África, e sabemos que não existe ninguém mais branco do que o Danny Elfman. Imagino como ele se sentia. Mas hoje foi meu dia de preto. Imagino também se é assim que um negro se sente ao caminhar por Higienópolis, um homossexual ao caminhar entre a torcida do Corinthians, um portador de vitiligo ao caminhar por qualquer lugar, ou um isentão ao caminhar pelo Brasil de hoje. Aquele meio segundo em que pessoa após pessoa te estupra com um inadvertido olhar que berra "você não é como nós".
Fui, voltei, nada vi de interessante além de muita pobreza, esgoto a céu aberto e muitas e muitas bocas manchadas de vermelho de tanto mascarem buai (aquele mesmo treco que masquei anteontem, com visivelmente bem menos competência). É como aterrissar com sua espaçonave em Arrakis e estranhar aquele mar de gente com os olhos azulados...
Ao longo da caminhada, em passo apertado, sem fazer contato visual, fazendo aquela cara de mau, toda franzida, umas tantas pessoas me cumprimentavam ao passar por mim, sei lá se pra tentar chamar minha atenção e bater minha carteira em seguida, ou se por simpatia induzida pelo buai. Mas bem mais frequente era aquela furtiva olhadinha, aquele meio segundo em que tantas e tantas pessoas traíam seu estranhamento por ver um branco (tá, vagamente amarelinho...) andando entre eles.
Danny Elfman, antes de criar o Oingo Boingo, passou um tempo ganhando a vida tocando na rua em cidades na África, e sabemos que não existe ninguém mais branco do que o Danny Elfman. Imagino como ele se sentia. Mas hoje foi meu dia de preto. Imagino também se é assim que um negro se sente ao caminhar por Higienópolis, um homossexual ao caminhar entre a torcida do Corinthians, um portador de vitiligo ao caminhar por qualquer lugar, ou um isentão ao caminhar pelo Brasil de hoje. Aquele meio segundo em que pessoa após pessoa te estupra com um inadvertido olhar que berra "você não é como nós".
Ah, sim, e ao voltar pro hotel, porque o universo recompensa os temerários e inconsequentes, nos deram um upgrade
de quarto, agora estou me sentindo um rei. Então fui comemorar fazendo um xixi na piscina.
de quarto, agora estou me sentindo um rei. Então fui comemorar fazendo um xixi na piscina.





No cu do mundo é assim...
ResponderExcluirSó uma coisa a declarar...eitaaaaa Aderbal.
ResponderExcluir