20/10 - Cairns




E é isso aí! Port Moresby se resumiu a dar uma caminhada em passo acelerado por um favelão, ir fazer um passeio coisa nenhuma num meio que Boqueirão depois do dilúvio e hoje ficar fazendo hora no bunker até o meio-dia, pra depois poder voltar ao aeroporto. Que me lembrou aquele caixotinho pequenininho que era o aeroporto de Salvador quando, aos 10 anos de idade, fui sequestrado para passar seis anos vivendo naquele mormaço e maresia inclementes, temperados com pernilongos, com os visíveis resultados sobre minha integridade psíquica. 
O de Salvador depois foi reformado, e ficou irreconhecível. O de Port Moresby permanece estacionado no tempo até hoje, com sua única lanchonetezinha (da qual saiu, ainda assim, um milk-shake de caramelo muito digno), seus quatro portõezinhos de embarque, sua internet de cortesia que não funciona. 
Até o avião que nos trouxe à Austrália era relíquia: pequeno, movido a hélice, com, em vez de filminho na tevezinha inexistente, duas aeromoças mostrando ao vivo como inflar o colete salva-vidas  e apontando com os bracinhos onde ficavam as saídas de emergência. Lembram?



Chegando à Austrália, estava contente porque agora por algum tempo não teria que ficar passando por aborrecimentos com troca de dinheiro, três semanas com uma mesma moeda só, até descobrir que a casa de câmbio do aeroporto cobrava comissão. Acossado pela minha proverbial mesquinhez, e não intimidado pela dor de queimadura que meu rosto e minhas costas já começam a sentir, propus que fôssemos andando até o hotel, 6,5 km de caminhada, com mochilas nas costas, sol no lombo e nem sinal de calçada até o caminho do aeroporto dar lugar às ruas da cidade. Sem 3 contos no bolso pra poder mudar de ideia e tomar um ônibus até o centro. Então o pobre ser que está tendo o desprazer e martírio de me acompanhar nesta viagem brinca que poderíamos pedir carona e, sem que eu perceba, porque estou andando na frente, começa a fazer aquele gesto de ordenha com o polegar. E não é que, para meu avermelhante constragimento, uma mãe que havia ido buscar a filha no aeroporto, ambas até que bem gostosinhas, pára o carro e se prontifica a nos levar até nosso destino?!?! Antipau no anticu para elas, superfofas, e menção honrosa ao desafortunado ser fadado a purgar mais 3 semanas de minha abjeta companhia, sem cuja total e absoluta falta de senso de noção estaríamos caminhando sob o sol inclemente até agora! 

Em compensação, a mocinha do hostel, alegando que estávamos atrasados (provavelmente porque inventei de tentar vir andando), acabou cobrando no cartão as diárias, em vez de recebem em dinheiro, como combinado. 6,38% de pau no cu dela.


Comentários

  1. Caroninha caridosa, baita sorte, heim?
    Tô compadecida da tua companhia de viagem... a criatura sofre em demasia, valha-nos Senhor!

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