24/10 - Mackay




De volta às minhas ruminações pedestres e pouco embasadas inspiradas por Port Moresby, até por falta de coisa melhor para fazer. Pela manhã fizemos pouco além de tomar aquele cafezinho instantâneo disponível no quarto do hotel e ficar enrolando até a hora de sair, para ficar enrolando mais, até a saída do busão às 13:00, no qual ficaremos com a bunda sentada até às 5 da madrugada do dia seguinte.

Estou aqui sentado num banco de praça, com mochilas e bolsas ao meu redor, olhando para um cara meio sujão, com uma mala, no banco uns 50 metros à minha frente. Nenhum dos dois parece se sentir muito ameaçado pela mera presença um do outro, exatamente o oposto de como me senti na Nova Guiné, e não é porque o prédio às minhas costas é a delegacia de polícia. Há um contrato social que estipula que não nos atacaremos mutuamente, e a gente não pára pra pensar como ele é eficaz mesmo na ausência de uma força externa perceptível que nos coaja. Certamente em parte há algo atávico que faz com que nos reconheçamos ambos como caucasianos, e, portanto, membros implícitos de um mesmo bando, ao contrário de em Port Moresby, onde eu era instantaneamente um alienígena.
Mas, despidos do contrato social, somos basicamente bichos, como aquele cachorro que te assusta com seu latido quando você passa pelo portão daquela casa, porque sentiu seu espaço invadido, e, até prova em contrário, você é uma ameaça. 
No caso dos cachorros, há bastante tempo acalento a fantasia de andar com um tubo de spray de pimenta no bolso, para retribuir o susto na próxima vez que isto acontecer. Com os neoguineenses, ou sei lá qual o genitivo, haveria mais dificuldades práticas.



De qualquer modo, somos pouco mais do que cães. Certamente, na estrutura, meros chimpanzés. Entre nosso bando, há um monte de regras implícitas e explícitas para evitar tomar mordida. E, fora do bando, qualquer um é uma ameaça, e a postura básica é de medo e fuga ou ataque e esquartejamento. Um pouco mais se a gente for esquizofrênico ou tiver enchido o nariz de cocaína.

É muita bobagem, né? Mas pelo menos tinha Baskin and Robbins numa das paradas do ônibus.

Comentários

  1. Filosofando sobre o homem é o lobo do homem. Nem deu vexame hj. É melhor turbinar essa viagem.

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