27/10 - Brisbane



De volta ao convencional hoje, com mais Brisbane na cabeça. A passadinha num museu de arte contemporânea acabou virando meio dia de passeio. Montes de coisas interessantes para ver e, melhor, o local tem sua própria sala de cinema, com programação gratuita todos os dias, então ficamos para (re)assistir O Show de Truman.




Sempre que me perguntam se as caracterizações de psicóticos e psicopatas e demenciados e etc. de tal e qual filme são fidedignas, respondo que, bem, o ator se esforçou. Exemplo mais recente de um belo esforço é o Coringa do Joaquin Phoenix. Mas no Show de Truman, sempre identifiquei, ainda que com sinais invertidos, a mais perfeita caracterização fenomenológica de uma intuição delirante, da instalação de um delírio de perseguição. Interessante perceber também como, na situação do personagem, a situação à qual está exposto é tão maior e mais generalizada do que sua persecutoriedade pobremente informada consegue supor que este sequer ter condição de formular uma boa fantasia sobre em quem confiar ou para onde fugir.
Mais ou menos como a maioria de nós, que apenas arranhando o começo da casquinha da percepção da farsa na qual estamos embebidos, sonhamos em fugir para Fiji, quando a única forma eficaz de fuga é para a morte.


Também muito mais assustadora do que qualquer caracterização de vilãozão psicopata, inimigo de James Bond, traficante de drogas mexicano, zumbi canibal ou serial killer é o personagem do Ed Harris, o criador do show e metáfora meio pesadona e óbvia para o próprio Deus. Quão mais atemorizante é um Deus que não é realmente malvado, mas genuinamente amoroso e um tanto birrento, que tem sob suas mãos os botões que dificultam tão homericamente a fuga daqueles poucos que conseguem se dar conta de que são prisioneiros, sem terem cometido qualquer crime, deste enorme Carandiru chamado vida.



E aí, depois, à tarde, show comédia stand-up no qual também tive que ficar standing up, porque era um bar, lotado, com a cerveja que não bebo a 15 dólares. Pau no cu dos comediantes, com seu falar muito rápido e cheio de gírias e mumunhos difíceis de entender.  À noite, corridinha em Brisbane. Quase duas horinhas, suficientes pra dar aquele trato nos meus mamilos e uma castigada nos meus calcanhares.

Comentários

  1. De longe, o melhor comentário da sua vida.
    Finalmente compreendí o porque de tamanho mal estar qdo assistí O Show de Truman à época. Foi marcante. Como achei que estava gagá, nunca comentei com ninguém. Arre!!

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